Produção: Monique Lôbo e Isabela Aguiar
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Baba na quadra pública da Rua da Paciência, no Rio Vermelho. Foto: Isabela Aguiar |
Quando o paulista Charles Miller trouxe uma bola de futebol da Inglaterra para o Brasil, em 1894, ele não fazia idéia de que aquele esporte, até então ignorado pelos tupiniquins, se tornaria a grande paixão nacional. Não é difícil encontrar, nos finais de semana, grupos de jogadores amadores batendo uma bolinha. Depois de sediar uma Copa do Mundo, em 1950, se preparar para receber a próxima, em 2014, e vencer cinco, os brasileiros já se consideram experts no assunto. Afinal este é o país do futebol, e em cada campo, quadra ou rua, a bola rola aos pés dos mais diversos atletas.
Na maioria das vezes esses boleiros de fim de semana são pessoas comuns, sem a menor pretensão profissional no esporte. Esse é o caso do jornalista Felipe Campos, 23, que costuma jogar futebol com os amigos uma vez por semana. A prática, que se iniciou na infância, tornou-se uma forma de reunir os amigos em um momento de lazer. “O baba é hoje a minha válvula de escape de uma rotina de trabalho, estudos e muito estresse. Além de ser a única ocasião em que encontro meus amigos regularmente. Durante a partida, eu sinto descarregar as tensões que ganho no dia a dia”, conta.
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Edmundo come e toma bebida alcoólica durante o baba. Foto: Arquivo pessoal |
O mesmo acontece com o estudante de Direito Edmundo Santos, 25. “É sempre bom porque acaba sendo uma maneira de confraternização com os amigos, várias risadas e uma cervejinha depois do jogo”, explica o boleiro. O amadorismo do esporte faz com que seus praticantes descuidem da saúde, exigindo demais do corpo, o que pode provocar danos que vão de pequenos ferimentos a lesões graves.
O também estudante de Direito Diego Balthazar, 23, que joga todos os fins de semana, já teve que ficar 14 dias sem o futebol devido uma torção no pé.
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Diego ficou 14 dias de molho por causa de uma torção. Foto: Arquivo pessoal |
Já o estudante de Administração Fernando Neto, 22 – que jogava futebol na escola e posteriormente passou a jogar com os amigos do seu bairro, o Rio Vermelho – está passando por uma situação ainda mais grave. Por causa de uma queda durante uma partida, terá que operar o joelho direito. “Sinto muitas dores”, conclui.
Riscos e contusões
Especialistas alertam para o risco que o esforço físico excessivo e esporádico pode trazer para a saúde dos indivíduos. A fisioterapeuta Suely Machado atenta para os danos nos músculos e ossos decorrentes do abuso nas atividades físicas. “Podem ocorrer lesões devido à falta de condicionamento para a referida atividade”. Entre os danos mais comuns estão as distensões, rupturas de tecido mole (ricos em fibras de colágeno e elastina), lesões meniscais (traumas nos meniscos dos joelhos), lesões discais (traumas na coluna vertebral) entre outras, além do encurtamento muscular que é resultado do sedentarismo, o que deixa o músculo também vulnerável à lesões.
O jornalista Felipe Campos sabe bem o que é isso. Durante uma partida, sofreu uma distensão na virilha e ficou impossibilitado de andar e de praticar o esporte que tanto gosta.
O coração e a bola
O esforço físico interfere bruscamente no principal músculo do corpo humano: o coração. De acordo com a cardiologista Luciana Duarte, o sedentarismo pode causar dano ao corpo a curto e longo prazos, principalmente quando se tenta compensar a falta de atividades físicas através de exercícios com carga maior nos finais de semana. “O excesso de atividade em um corpo mal condicionado ao exercício pode causar dores nas articulações, entorses etc., e principalmente uma sobrecarga ao coração”, afirma.
Veja um vídeo com a cardiologista
A cardiologista também explica a diferença de reações ao esforço físico de um individuo sedentário para um indivíduo ativo. “Durante a atividade física, o coração aumenta a frequência cardíaca e a pressão arterial para fornecer mais sangue e oxigênio aos músculos em trabalho”, alerta Luciana. Segundo a cardiologista, o coração de um atleta, que está condicionado através da prática regular de esportes, faz com que a frequência cardíaca e a pressão arterial aumentem em um nível mais baixo do que o coração de uma pessoa que não tem o preparo físico.
O perigo desse aumento, segundo a médica, é que pessoas que têm alguma doença cardíaca podem sofrer uma arritmia grave, ou mesmo um acidente vascular cerebral (AVC) decorrente do aumento da pressão arterial. Este sempre foi um receio que acompanhava o universitário Fernando Neto durante os babas. Apesar de ter 22 anos, o jovem toma remédios para controlar a a pressão arterial, e sempre teve medo da atividade com a bola causar algum problema maior à saúde. “Eu estou com a minha pressão controlada, mas mesmo assim, antes do joelho, a minha única preocupação no baba era de que eu poderia estar cobrando muito do meu coração”, lembra.
Prevenir é preciso
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Fernando é hipertenso e tem medo de exigir muito do coração. Foto: Monique Lôbo |
Prevenir é preciso
Para prevenir as contusões e lesões é necessário que o esportista pense na atividade física em todas as suas fases. Mesmo praticado de forma amadora, o futebol exige do atleta certos cuidados para que o lazer não se torne um transtorno. A fisioterapeuta Suely Machado aconselha aos boleiros que optem por fazer atividades físicas durante os outros dias da semana, como caminhadas e pilates, por exemplo. Isso é necessário para que haja um estímulo à irrigação dos tecidos do corpo. Além disso, Suely ainda indica aos atletas que, antes de começar a partida, façam um alongamento suave, “sempre com ativação da respiração, dando ênfase ao trabalho do músculo abdominal mais profundo, favorecendo a estabilização da parte central do corpo”, e também um aquecimento.
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Suely dá dicas de como se cuidar. Foto: Arquivo pessoal |
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Luciana alerta que obesos precisam de cuidado redobrado. Foto: Isa Aguiar |
Já a cardiologista Luciana chama a atenção para a dieta e os hábitos dos esportistas. Ela esclarece que é necessário manter uma dieta saudável em conjunto com a prática da atividade física. A médica ainda ressalta que pessoas obesas, diabéticas, hipertensas ou fumantes “devem ter um cuidado redobrado, pois têm um risco cardiovascular alto e, em uma situação de alteração nos vasos do coração, podem ter um AVC”.
Após a prática do esporte, a fisioterapeuta Suely indica que seja feito um alongamento para deixar os músculos mais flexíveis e relaxados. Outra possibilidade benéfica é uma massagem. A cardiologista Luciana indica a necessidade de uma alternância de esforço na mesma área do corpo. Ela revela que os músculos necessitam de 24 a 48 horas para se restabelecer, por isso não é indicado fazer os mesmos exercícios diariamente, e sim em dias alternados. O ideal é que, mesmo não sendo um atleta profissional, o indivíduo procure um atendimento médico para uma avaliação e posterior liberação da prática da atividade física.
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